Saiu no começo de março uma reportagem num canal internacional de TV, falando do Brasil.
Analisava a conexão entre a religião e pensamentos e atos políticos fundamentalistas.
Demonstrava quanto a religião foi utilizada para iludir pessoas, motivar atitudes de ódio e até ações violentas e antidemocráticas, como a ocupação da praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.
Alguns pregadores nem se preocupam em ter igrejas ou espaços físicos onde reunir seu rebanho: optaram pelas redes sociais para alcançar números maiores de pessoas, possivelmente de muitas partes do país.
Por causa da concorrência religiosa nas redes sociais, dos tempos curtos e da necessidade de chamar a atenção e cativar a audiência das pessoas, as pregações online fazem ainda mais apelo aos sentimentos e às emoções, especialmente o medo do inimigo e a euforia.
Muitas vezes, é necessário criar um inimigo imaginário, ou satanizar os adversários, para santificar as crenças e justificar as ações dos seguidores do profeta de turno, que grita no youtube.
Este tema nos preocupa bastante, como Observatório da Comunicação Religiosa.
Como falar de Deus, na televisão ou nas redes sociais, sem manipular as pessoas e sem cair num dos pecados mais antigos e comuns, tão criticados na Bíblia: “usar o nome de Deus em vão”?
É impressionante quanto os pregadores-as online, para cativar a atenção e a fidelidade da audiência, fazem referência a sonhos, visões, inspirações e encontros diretos com Deus.
“Deus me disse”, “O Senhor me revelou”, “Apareceu-me um anjo”…
É até uma postura covarde, porque se alguém os criticar ou denunciar pelo conteúdo da pregação, eles podem justificar-se, dizendo que não se tratava de calúnias ou incitações à violência, mas simplesmente de uma visão, de um sonho partilhado.
Desconfiem de quem tiver sempre o nome de Deus na boca, porque muitas vezes o pode utilizar para manipular as consciências!
No Evangelho, Jesus diz à Samaritana que Deus não se deixa capturar ou adorar no monte dos samaritanos ou no templo dos judeus, mas deve ser encontrado “em espírito e verdade”.
Quando falamos de Deus, precisamos fazê-lo com muito respeito, em ponta de pé, frente ao mistério que nunca podemos possuir ou controlar.
Quando falamos de fé e política, precisamos conhecer o ensino social da Igreja, recordar o magistério de tantos mestres na fé, respeitar o grito das pessoas empobrecidas, que são as mais amadas por Deus: é por elas que a política serve, para proteger os fracos, para cuidar da vida, para organizar a sociedade em relações de amor!
Não se deixe enganar por falsos profetas! A nossa fé é bem mais preciosa e sagrada!
Até São Paulo o diz: “Quando eu era criança, falava como criança e pensava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança” (1Cor 13,11).