TEXTO – 14/07/2023 – Rumo à presença plena

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Retomo um tema que já foi tratado aqui, não só por ser referência para o trabalho do Observatório da Comunicação Religiosa, mas, sobretudo, pela importância que tem para todos os Cristãos. Trata-se do Documento recentemente divulgado pelo Dicastério para a Comunicação do Vaticano que reflete sobre nossa participação nas redes sociais.

A primeira parte do documento chama atenção para os riscos que existem nas “rodovias digitais” e leva o subtítulo “Aprender a ver a partir da ótica de quem caiu nas mãos dos ladrões”. Evoca, portanto, a Parábola do Bom Samaritano do Evangelho de Lucas quando Jesus, respondendo ao doutor da lei que o interpelou sobre quem era “o próximo”, conta que o samaritano, ao contrário do sacerdote e do levita, foi o único que cuidou do homem que havia sido assaltado e ferido por ladrões. E o documento nos lembra que “a esperança de que o mundo digital seria um feliz espaço de compreensão comum, informações gratuitas e colaboração” e que “a Internet devia ser uma “terra prometida”, em que as pessoas pudessem contar com informações partilhadas com base na transparência, confiança e experiência”, não se realizaram.

Diante disso, quais são os riscos que nos esperam nas rodovias digitais? Pelo menos quatro são mencionados.

Primeiro, devemos ter consciência de que, como usuários de redes sociais mercantilizadas, somos, ao mesmo tempo, consumidores e produtos. Como consumidores, somos alvo de anúncios criados “sob medida” para nos envolver e conquistar. E como produtos, nossos perfis e dados pessoais são vendidos a outras empresas, com o mesmo objetivo. Conhecido ditado diz: “Se você não pagar pelo produto, o produto é você”.

O segundo risco é o fato de que está cada vez mais difícil verificar quem são as fontes e qual é a veracidade das informações que circulam nas redes sociais. Não podemos nos deixar cair em “bolhas” que vão criando um mundo paralelo, em tudo distante da realidade concreta que vivemos.

O terceiro risco é exatamente que estas “bolhas” nos impedem de encontrar “o outro” que é diferente de nós. Elas nos levam ao isolamento.

E o quarto risco, mencionado no Documento do Dicastério, é que estes espaços isolados nas redes digitais encorajam comportamentos extremos. Nestas “bolhas”, os discursos de ódio “propagam-se fácil e rapidamente, oferecendo um campo fértil para a violência, o abuso e a desinformação”.

Termino com a citação literal de dois parágrafos do Documento: “Estar cientes destas ciladas ajuda-nos a discernir e desmascarar a lógica que polui o ambiente das redes sociais, e a procurar uma solução (…). É importante apreciar o mundo digital e reconhecê-lo como parte da nossa vida. No entanto, é na complementaridade das experiências digitais e físicas que se constroem a vida e a jornada humanas. Ao longo das “rodovias digitais”, muitas pessoas são feridas pela divisão e pelo ódio. Não podemos ignorar isto.

Não podemos ser apenas viajantes silenciosos. A fim de humanizar os ambientes digitais, não devemos esquecer quem é “deixado para trás”. Só podemos ver o que acontece, se olharmos do ponto de vista do homem ferido na parábola do Bom Samaritano. Como na parábola – onde somos informados a respeito do que o homem ferido viu – a perspectiva dos marginalizados e feridos digitalmente ajuda-nos a compreender melhor o mundo de hoje, cada vez mais complexo”.

Que assim seja!

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