Uma das referências que o Observatório da Comunicação Religiosa utiliza para cumprir sua missão tem sido, naturalmente, as mensagens anuais do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Quero voltar a este tema, que já foi tratado aqui, para relembrar os exemplos que são oferecidos na mensagem deste ano.
O Papa nos convida a falar com o coração, isto é, comunicar cordialmente. Cordial vem do Latim cor, cordis, isto é, coração; e cordialmente, de cordialis, relativo ao coração. Comunicar cordialmente, diz o Papa, “quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimento das mulheres e homens do nosso tempo”.
Ao longo da mensagem, são mencionados três exemplos deste “estilo” de comunicação.
O primeiro é o daquele misterioso viajante que dialoga com os dois discípulos na estrada de Emaús, descrito no capítulo 24 de Lucas. Ele se aproxima e pergunta: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando? ” Os dois estavam amargurados e frustrados pelos acontecimentos recentes da prisão e crucificação de Jesus. O misterioso caminhante, então, “falando com o coração”, explica a eles as passagens das Escrituras que antecipavam seu martírio. Quando já na aldeia, depois da partilha do pão, se dão conta de quem era o misterioso viajante, os discípulos disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?”
No segundo exemplo de comunicação cordial, o Papa recorre a um clássico romance italiano, do início do século 19, que ele tem citado frequentemente em seu pontificado, inclusive após a recitação do Regina Coeli, neste domingo de Pentecostes. Trata-se de “Os Noivos” de Alessandro Manzoni, autor ao qual o Papa se refere como sendo o “cantor das vítimas e dos últimos”. A personagem Lúcia – sequestrada, amedrontada e fragilizada – fala com o coração ao seu algoz de tal forma, que ele “desarmado e atormentado por uma benéfica crise interior, cede à força gentil do amor”.
E por último, o terceiro exemplo invocado pelo Papa vem da vida de São Francisco de Sales, transformado em padroeiro dos jornalistas e dos escritores por Pio XI. Tendo sido bispo de Genebra nos difíceis anos marcados pela disputa renhida com os calvinistas no século 17, diz o Papa, “sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”. Uma de suas famosas afirmações diz exatamente “o coração fala ao coração”, que inspirou São John Newman a escolher como lema “Basta amar bem, para dizer bem”.
Esses três exemplos devem estar sempre conosco, comunicadores profissionais ou não, para que possamos falar com o coração e, portanto, comunicar cordialmente.
Termino com uma citação literal do Papa Francisco. Afirma ele: “Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação «de coração e braços abertos» não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um. Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor. De modo particular nós, cristãos (…).
Que assim seja!