Olá. Hoje abordaremos o tema “religião e política”.
Análises produzidas pelo Centro de Estudos da Religião e Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, o CERP, tendo como fontes tweets publicados por lideranças religiosas, em 2022, indicaram o impacto das opiniões de líderes religiosos na opinião pública. O monitoramento concluiu que a religião está cada vez mais presente na discussão pública e os valores religiosos estão imprimindo formas de comportamento social.
Segundo o CERP, “religião e política podem ser forças polarizadoras, justamente porque tratam de assuntos importantes, profundamente pessoais e próximos de nossas paixões. O velho ditado “não misture religião e política” não perde sua utilidade porque representa uma verdade poderosa: quando a religião é usada para fins políticos, ela esvazia seu significado e se torna apenas mais um método cínico de adquirir poder.”
Pesquisadores de várias áreas do conhecimento e de várias partes do mundo têm observado a utilização da religião para a manipulação político-eleitoral, conquista do poder do Estado e/ou para a difusão de discursos de ódio e notícias falsas. Algumas pesquisas apontam para a apropriação do cristianismo por grupos políticos da extrema direita em várias partes do mundo.
Esses grupos da extrema-direita global, utilizando principalmente das redes sociais e dos influenciadores digitais, manipulam a identidade cristã para reforçarem um pertencimento religioso e social radicalizado, criando a chamada “guerra cultural”.
O teólogo e pesquisador Ronilso Pacheco, professor assistente do Departamento de Filosofia na Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, em entrevista à Deutsche Welle, empresa pública de radiodifusão da Alemanha, afirma que a ideia de que o Cristianismo deve orientar a vida social com um projeto de poder político está presente também no Brasil.
Uma reportagem do jornal Le Monde Diplomatique Brasil associa a ascensão da extrema-direita em nosso país ao crescimento dos evangélicos. Porém, vários ataques à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a lideranças e clérigos católicos considerados progressistas ou aliados do Pontificado do Papa Francisco demonstram que setores fundamentalistas da extrema-direita também estão presentes no universo católico.
Quando analisamos os fenômenos como os atentados antidemocráticos do dia 08 de janeiro de 2023 contra os três poderes da República, verifica-se a presença de lideranças e igrejas financiando tais atividades. Por isso, o teólogo e pesquisador Élio Gasda, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, defende uma relação estreita entre neoliberalismo, pentecostalismo evangélico, reacionarismo católico e extrema-direita.
O catolicismo no Brasil sempre foi plural e apresenta várias formas de expressão, inclusive no campo político. Há que se observar, porém, que nos últimos anos setores fundamentalistas dentro do catolicismo se associaram a grupos religiosos da extrema-direita do campo evangélico/protestante, inclusive em ações coordenadas de ataques à democracia, a instituições democráticas, a lideranças e movimentos sociais nos Parlamentos e nas mídias sociais.
Portanto, é fundamental que os cristãos, em geral, e os católicos, especificamente, fiquem atentos a esses fenômenos que se circunscrevem dentro de um espectro social, político, cultural e religioso de extrema polarização e disputas de visões de mundo dentro do próprio cristianismo.