Quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo

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O OCR – Observatório da Comunicação Religiosa apresenta hoje uma reflexão necessária sobre ética e responsabilidade na Comunicação Religiosa, inspirada nas palavras do Arcebispo de Cachoeiro do Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, ao comentar a celebração pública da morte de centenas de pessoas durante uma operação policial no Rio de Janeiro.

O arcebispo retoma a postura essencial do Evangelho: diante do inimigo, do pecador ou do excluído, o cristão não responde com vingança, mas com misericórdia — núcleo central da fé e da tradição cristã. Assim, quando a morte de alguém — ainda que considerado criminoso — torna-se motivo de festa, abandona-se a lógica do Evangelho e adere-se à cultura da morte.

Essa reflexão desafia profundamente a Comunicação Religiosa, que nunca é neutra: toda palavra comunica valores, molda percepções e pode legitimar práticas de vida ou de morte. O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (Documento da CNBB nº 99) já advertia sobre a necessidade de que a comunicação eclesial promova a dignidade humana e enfrente as estruturas de injustiça presentes na sociedade. Nesse sentido, discursos que naturalizam a violência, alimentam o ódio ou justificam a eliminação do outro contradizem frontalmente a missão comunicativa da Igreja.

A comunicação de inspiração cristã precisa estar sustentada por três pilares éticos: verdade, compaixão e compromisso com a vida e a justiça.
A verdade impede manipulações ideológicas;
a compaixão orienta o olhar para o outro como irmão, e não como inimigo;
e o compromisso com a vida impede que a palavra se torne instrumento de desumanização.

Recordando a frase atribuída ao Papa Francisco — “Quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo” — Dom Luiz Fernando Lisboa nos convida a repensar profundamente o uso da palavra cristã em tempos de extremismos e banalização do sofrimento humano. Comunicar a partir do Evangelho significa resistir a discursos de ódio e reafirmar o valor sagrado de toda vida humana.

A missão comunicativa dos cristãos inclui reconstruir a humanidade também por meio das palavras. Isso implica rejeitar discursos que reduzem vidas a estatísticas, que justificam violências ou que promovem a vingança sob o nome de justiça. Implica, também, assumir a comunicação como território de reconciliação, perdão e encontro — como insiste o Papa Francisco ao propor uma “cultura do encontro”.

Assim, a autenticidade da Comunicação Religiosa se manifesta quando cada palavra é semeada como quem protege a vida e reconhece a dignidade humana. Celebrar a morte é negar Cristo; comunicar com misericórdia é seguir seus passos com fidelidade.

Que a Comunicação Religiosa continue sendo instrumento de paz, discernimento e defesa da vida, lembrando sempre que nenhuma sociedade se humaniza quando a morte se torna espetáculo — e nenhuma Igreja permanece fiel ao Evangelho quando silencia diante da banalização da vida.

Brasília, 28 de novembro de 2025.
Robson Sávio Reis Souza

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