Em comemoração aos 50 anos de criação do Comitê Episcopal Pan-Africano para as Comunicações (CEPACS), uma Conferência reuniu em Lagos, Nigéria, no final de novembro, presbíteros, leigos, especialistas em comunicação, profissionais de mídia e acadêmicos sob o tema “RUMO À PROMOÇÃO DE UMA IGREJA SINODAL NA ÁFRICA ATRAVÉS DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS”.
O Observatório da Comunicação Religiosa, mesmo de longe, acompanhou a Conferência em busca de lições que possam iluminar os comunicadores cristãos, também aqui no Brasil.
Um dos palestrantes foi o bispo da diocese de Kondoa, na Tanzânia, Bernardin Mfumbusa. Ele lembrou que o cenário da mídia na África HOJE é muito diferente daquele de 1973, quando o CEPACS foi criado: “Os modelos lineares de mídia que permitiam um controle governamental mais centralizado e regulamentado acabaram. Também já se foi o tempo em que a Igreja tinha mais controle sobre o conteúdo por meio de instrumentos como o NIHIL OBSTAT e o IMPRIMATUR (…). Hoje, disse ele, a Igreja na África, COMO EM QUALQUER OUTRO LUGAR, tem de enfrentar um cenário de mídia que lembra uma Babel sem guardiões, um contexto no qual os jovens, às vezes inexperientes, são condicionados por influenciadores e criadores de conteúdo que são (“endeusados”). É nesse ambiente midiático de notícias falsas, desinformação e “doxxing” – a prática de buscar e disseminar publicamente informações pessoais e privadas online – que o CEPACS revitalizado terá que encontrar seu lugar”. Com certeza, algumas destas ponderações se aplicam também à Igreja no Brasil.
Outra fala foi a do Prefeito do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, Paolo Ruffini. Ele lembrou que “Comunicar e comunhão são duas palavras que têm “a mesma raiz”. Essa consciência, para aqueles que trabalham na mídia (…), “(deve ser) uma bússola que oriente seu trabalho diário.” (…). A comunicação, ressalta ele, “é o dom que Deus nos concedeu, seres humanos criados à sua imagem, para nos relacionarmos uns com os outros, para construirmos uma comunidade e tecermos a comunhão entre nós. Juntos, por meio do rádio, da internet e das mídias sociais, podemos construir um sistema com a missão de nutrir a palavra da verdade, com base na experiência de Pentecostes entrelaçada com o espírito de compartilhamento, e não com o (espírito) de Babel (…)”.
De fato, a palavra comunicação traz em si mesma uma ambiguidade representada em seus pólos extremos por TRANSMITIR – um processo de mão única, e PARTILHAR – um processo comum ou mútuo. Estudiosos contrapor essas duas definições possíveis de comunicação. No polo do TRANSMITIR, a comunicação é entendida como algo que pode ser enviado ou transportado, um processo através do qual mensagens são transmitidas e distribuídas no espaço, para controle da distância e das pessoas. No polo do PARTILHAR – que se fundamenta nas raízes latinas da palavra, comum, comunhão, comunidade – a comunicação é entendida como compartilhamento, coparticipação e associação. Nesta perspectiva, o jornalismo deve ser praticado como uma “representação da realidade que dá à vida uma forma, uma ordem geral”. E as notícias – histórias do cotidiano – “deixam de ser vistas como informação, e passam a ser entendidas como drama”.
Neste tempo de Advento, vamos refletir sobre as lições que nos vem da África e orientar nossa comunicação no espírito do compartilhar e não no espírito de Babel, para torná-la cada vez mais sinodal e, portanto, mais cristã. Que assim seja!