Fé e poder em disputa: reflexões a partir de “Apocalipse nos Trópicos”

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Está sendo muito debatido, também em nível internacional, o filme da documentarista Petra Costa, com título “Apocalipse nos trópicos”.

A obra trata do ataque violento à democracia no Brasil, destacando a responsabilidade de setores religiosos fundamentalistas na tentativa de destruição das instituições, para a tomada do poder.

Uma ameaça que ainda não está controlada, por sinal, pois não se limita aos atos do 8 de janeiro de 2023 e acaba voltando hoje, de outras formas, inclusive com o apoio da extrema direita norte-americana.

O Observatório da Comunicação Religiosa não pode deixar de comentar sobre esse filme, que mostra a força da “guerra cultural”, uma estratégia de comunicação que incute ódio e medo nas pessoas, para mobilizá-las a partir de princípios religiosos, em favor de formas de poder antidemocráticas.

Foi desafiador, para a cineasta, realizar uma análise profunda da relação entre religião e democracia, em menos de duas horas de filme. Por isso, o documentário traz limites evidentes: por exemplo, generaliza o campo evangélico ao neopentecostalismo fanático; também, não comenta sobre a corresponsabilidade de diversos grupos católicos (inclusive presbíteros) nos ataques à democracia.

Porém, mostra como a teologia da prosperidade, a teologia do domínio, o moralismo que discrimina e a demonização dos adversários são armas poderosas contra os valores democráticos.

Queria destacar, sobretudo, uma provocação forte do filme e do momento atual: uma coisa é defender a relação sagrada e cada vez mais necessária entre e política; outra é afirmar e até impor o vínculo entre religião e política.

A fé inspira a política do cuidado, da inclusão, da justiça e da paz, no respeito da diversidade e na maturidade do diálogo. A religião que se apropria da política desconhece o estado laico, impõe os valores de um grupo acima dos outros e até legitima a violência como meio para alcançar os resultados que considera justos e da ordem divina.

Como Observatório da Comunicação Religiosa, seguiremos valorizando e destacando para vocês bons exemplos de fé comprometida na política, que – como diz o magistério da Igreja – é a forma mais alta de amar. Mas, também, denunciaremos sempre, com preocupação e firmeza, as contradições da religião cristã, quando esta for entendida como projeto para tomar o poder e o Estado.

Brasília, 01 de agosto de 2025.

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