O Dicastério para a Comunicação apresentou o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2026: “Preservar vozes e rostos humanos”. O Observatório de Comunicação de Religiosos (OCR) destaca que essa proposta nos coloca diante de uma questão essencial: em meio a tantas transformações tecnológicas, o que significa comunicar de forma verdadeiramente humana?
A inteligência artificial e os algoritmos oferecem ganhos inegáveis: rapidez, alcance global e novas possibilidades de interação. No entanto, comunicação não é apenas eficiência. Vozes e rostos carregam uma densidade que nenhuma máquina pode reproduzir: a voz que consola, o rosto que inspira confiança, o olhar que acolhe sem palavras. Esses gestos pertencem ao mistério da vida humana e da relação pessoal — não podem ser digitalizados.
O futuro da comunicação só terá sentido se a tecnologia permanecer a serviço da vida, como instrumento que fortalece vínculos, e não como força que enfraquece nossa humanidade. Quando as máquinas assumem o centro, corremos o risco de perder o pensamento crítico, de depender de conteúdos fabricados e de permitir que o poder de decisão se concentre em poucos. Nesse cenário, vozes se tornam ruidosas, mas não necessariamente verdadeiras; rostos se multiplicam, mas podem ser apenas simulacros.
Preservar vozes humanas significa também preservar os espaços onde elas florescem. Comunidades, cidades, territórios e a própria natureza são parte inseparável de nossa identidade. A comunicação que ignora esses lugares concretos torna-se abstrata, sem raízes. O ser humano não é um indivíduo isolado diante de uma tela, mas alguém que pertence a uma história, a um povo e a um chão.
Mais do que aprender a usar tecnologias, precisamos aprender a discernir. Educar para a comunicação, hoje, significa formar pessoas livres, capazes de questionar, interpretar e criar. Essa tarefa é urgente, sobretudo entre os jovens, que merecem crescer em um ambiente digital que não os aprisione, mas que favoreça autonomia, criatividade e espírito crítico.
Como Igreja, somos chamados a contribuir para que a comunicação continue sendo espaço de encontro, diálogo e solidariedade. O Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2026 recorda que apenas a pessoa humana — com sua voz e seu rosto — pode transmitir a verdade que liberta, a compaixão que cura e a esperança que sustenta a caminhada de cada peregrino neste tempo de travessias.
Brasília, 3 de outubro de 2025
Por: Irmã Maria Neusa Santos
