Nós, do Observatório da Comunicação Religiosa, temos o encargo de observar o fenômeno da comunicação a partir do olhar de Jesus Cristo. Parece pretensioso, mas essa é, de fato, a missão de todo cristão: assemelhar-se ao Cristo em tudo.
Santa Teresa d’Ávila dizia que nossa alma é como um jardim, e nesse jardim Deus passeia. Esse olhar místico nos leva a refletir sobre a importância de cultivar bem o jardim da nossa alma. Alma no sentido profundo: somos uma totalidade, corpo e espírito integrados em sua complexidade.
Como seria o passeio de Deus em nossa alma nestes tempos de crises humanitárias? Basta lembrar a dor extrema em Gaza: tantos corpos crucificados, pequeninos palestinos de corpos estilhaçados, pele e ossos, olhinhos apagados. O grito das mães ressoa neste vale de lágrimas…
E nós? Como nossa alma reage, em nosso lugar, em nosso quintal? Como diria Manoel de Barros, “meu quintal é maior que o mundo”. O quintal, aqui, é metáfora da universalidade. A dor de cada um é única, mas também é de todos nós. Jesus, na cruz, atraiu para si toda a dor de quem sofre. Também nós compartilhamos das dores do mundo em nossa capacidade de compaixão e solidariedade.
Dia desses, conversando com Dona Zélia, uma senhora de 96 anos, ela me disse:
“Padre, nós, humanos, às vezes nem nos damos conta do quanto fazemos mal ao nosso semelhante e também à natureza. Veja: enquanto andamos por aí, podemos pisar em caminhos de formigas… algumas morrem com a violência de nossos pés, outras ficam aleijadas para o resto da vida. E com nossas palavras, percebendo ou não, machucamos tanta gente.”
Que sensível e profunda essa fala de Dona Zélia!
Que tal prestarmos mais atenção por onde andamos — com os pés e com as palavras? É preciso cuidar, senão saímos por aí pisando tudo e ferindo a vida. As redes sociais digitais, por exemplo, têm se tornado um campo fértil para machucar, destruir, mentir e desinformar.
Nenhuma vida pode ser esmagada. Nenhuma dominação de uns sobre os outros pode prevalecer. Os que hoje se julgam donos do mundo passarão. Como diria Mário Quintana: “Eles passarão, eu passarinho.”
Os que fazem guerra serão apenas verbos no passado. Já os passarinhos — todos aqueles que ousam lançar a semente da paz e da concórdia, mesmo entre lágrimas — permanecerão. São os que se deixam espelhar na humildade e na compaixão de Jesus Cristo.
Brasília, 22 de agosto de 2025.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp