No longo período de campanha eleitoral, amplificou-se a divisão entre nós. Frequentemente, não conseguimos dialogar nem com os velhos amigos, ou os parentes próximos. Em nossas famílias, manifestou-se, atualizada, a imagem evangélica do filho contra o pai, da filha contra a mãe…
Na verdade, a violência verbal e física que está crescendo entre nós é um mecanismo alimentado estrategicamente, para empobrecer e evitar um efetivo debate político e transformar as eleições numa guerra, sustentada pela retórica do ódio, como bem descreve João Cezar de Castro Rocha.
Que ilusão ingênua aquela de quem acreditava que esta fratura social iria acabar, ou pelo menos se enfraquecer muito após as eleições! Imaginava-se que, passado o objetivo imediato da conquista do poder, teríamos -pelo menos por um breve tempo- a dissolução do fanatismo e a dispersão desta militância aguerrida que pretende eliminar o diferente.
Ao contrário, hoje ainda se mantém muito viva a violência de grupos fanáticos que não aceitam o resultado das eleições. E vem associada a situações de agressão ou violência explícita muito graves: há religiosos/as caluniados e bispos ameaçados de morte; representantes de outras igrejas, religiões ou expressões de fé discriminados e ameaçados; ataques armados (como no caso da escola no Espírito Santo) que despejam toda a raiva e o ódio no coração da sociedade.
Continua muito forte a divisão; a tal de ‘retórica do ódio’ não dá sinais de diminuir.
É um desafio para nós, cristãos, agentes de pastoral, que nos preocupamos sobre comunicação e fé. Temos uma missão urgente e decisiva: que tipo de comunicação nos cabe regenerar na sociedade?
Precisamos distinguir, nesta pergunta, diversos grupos e situações. Por trás das ações e pensamento dos grupos mais fanáticos, de fato, não há uma lógica (João César Castro Rocha chama isso de ‘caos cognitivo’, que ainda precisamos aprender a compreender). Neste caso, então, o que podemos tentar é evitar que este caos se espalhe mais ainda, como uma dissociação entre a realidade e o discurso.
Mas em muitos outros casos de diálogos possíveis e interrompidos, de relações de paternidade ou de amizade violadas pela retórica do ódio, acreditamos que ainda pode se afirmar a ética do diálogo.
E a força do diálogo está na comunicação não violenta: é uma das vocações mais importantes para os cristãos/ãs no tempo crucial de hoje.
As comunidades precisam retomar um exercício paciente e respeitoso: reaprender a nos comunicar. Ajudar-se a vigiar sobre as mentiras. Desmontar notícias falsas. Dar peso e autoridade aos fatos. Fazer o exercício de interpretá-los juntos, com paciência, na escuta.
Talvez, abraçar a ética do diálogo seja muito pouco, diante da máquina de ódio e da desinformação das redes sociais. Mas é nossa vocação e urgência para os dias de hoje!